sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

[Parte 15] Passado Londrino - Encontro ao Vento (Final)

  Oliver não queria mais contestar, queria apenas ouvir. De alguma forma, aquilo entrou em sua cabeça e o deixou sem ações. O sr. Simons não deu tempo para que ele pensasse, continuando a falar.


"Seu pai havia colocado em cima da mesa uma apólice. Era a mesma apólice que ele havia feito quando o Frederic deixou a empresa. Não pude acreditar na ideia que ele tinha em mente, e não quis aceitar que ele fizesse aquilo. Mas ele estava disposto ao sacrífico, desde que tudo voltasse ao normal, que tudo que ele mais amava ficasse protegido, sua mãe, você e a empresa.
  Ele sabia que não teria outra solução tão rápida, era necessário que aquilo fosse feito, e não havia tempo. Ele me contou o plano, mas não pude aceitar.
  Leonard sabia que eu iria recusar, mesmo assim ele continuou insistindo. Eu sabia que era a forma dele de salvar tudo, inclusive a mim, então, por egoísmo, aceitei fazer o que ele queria.
  Seu pai já havia planejado como tudo ocorreria. Seria na noite seguinte. Ele comumente ficava na empresa algumas horas depois do fim do expediente, faria da mesma forma. Leonard queria ficar com Liz e com você, Oliver. Então, somente naquela noite ele voltou mais cedo para casa." - O sr. Simons fez um pausa.


  Oliver lembrou-se da noite anterior à morte de seu pai. Uma das poucas vezes que o sr. Weitch havia chegado cedo em casa. Havia cumprimentado a sra. Weitch, e dado um abraço em Oliver. Aquele abraço, Oliver jamais pode esquecer. Ele não pode acreditar quando soube no dia seguinte que seu pai havia falecido. Ele sentiu os olhos encherem de lágrimas.


- Não posso demonstrar fraqueza. Serei forte! - Oliver gritava para si.


  Após aquele silêncio, o soprar gélido de ar, o sr. Simons continuou a narrar a história.


"No dia seguinte, ao fim da tarde, fui até a sala de Leonard, queria conversar uma última vez, tentar tirar aquela ideia da cabeça dele. Mas não consegui, ele apenas se certificou se tudo aconteceria como esperado. Ele me mostrou onde estava a apólice e confirmou o local. Ele ficaria até tarde na empresa, e então iria para casa, tomando desta vez um velho beco como caminho. O local era deserto, ninguém iria descobrir a verdade, mas iriam acreditar na história, pois o lugar era de certa forma perigoso.
  Eu deveria ir com ele, mas precisei ir em casa levar o remédio para o resfriado de Ruby. No caminho, enquanto ia ao encontro de Leonard, passei em frente à sua casa, e ti vi Oliver, pela janela, enquanto brincava. Não suportei. E ao encontrar Leonard, disse que não faria. Você e sua mãe precisavam dele. Ele não me ouviu.
  Eu continuei argumentando com ele, mas nada era aceito. Ele não iria desistir da ideia, não iria desistir da maneira mais fácil e dolorosa de salvar tudo. Do bolso do casaco ele tirou um revolver envolto em um lenço branco. Esticando a mão em minha direção, disse: "A hora chegou, por favor, faça!". Não pude pegar. - Lágrimas escorriam dos olhos de Vincent. Lágrimas iguais as daquela noite.
  Seu pai bradou mais forte, disse que não tinha outra forma, e lágrimas também caíam de seus olhos. Esticou novamente a mão para mim. E mais uma vez, recusei. Então, ele decidiu que faria da própria forma.
  Me olhando nos olhos, apenas disse para seguir com o plano. Não acreditei quando o vi fazendo aquele gesto. E rapidamente, ele apontou para si a arma e disparou." - Vincent se calou.


  Aquelas últimas palavras entraram como um turbilhão nos ouvidos de Oliver, arrastando tudo que tinha pelo caminho. Ruby sentiu quando a mão que sustentava sua cintura afrouxou. O braço começava a soltar seu corpo. Ela sabia o que acontecia em sua volta. 
  Tudo que Oliver sentia agora era o triste pesar da solidão que abatia sobre seu peito. A verdade não machucava tanto quanto sua atitude contra Ruby, a pessoa a quem tanto ele amou.
  E com um último suspiro, encostando no ouvindo dela, ele falou:


- Desculpe pelos momentos que te fiz sofrer. Ainda assim, te amo.


  Ele sabia que era aquele o destino final. Recuou alguns passos deixando o corpo de Ruby totalmente livre. Oliver não tinha mais o chão sobre seus pés. O ar passava rápido por seus ouvidos, fazendo um barulho perturbador. As últimas lágrimas escorriam sobre seu rosto. O último abraço do pai, um último beija da mãe, o último contato com Ruby. Essas foram as últimas lembranças de Oliver, antes que o brilho de seus olhos se apagassem no chão frio e úmido daquela cidade brilhante.


"Nada fora movido sem ter uma consequência.
Tudo estava interligado."